Franciscanosaveiro 3.02

É fora do antigo núcleo muralhado da Vila de Aveiro, próximo da porta de Vagos, e no actual Largo de Santo António, que se encontram os últimos edifícios da comunidade Franciscana existentes na cidade de Aveiro. Lado a lado, as simples e humildes fachadas da Igreja do Convento de Santo António e da Igreja da Ordem Terceira de S. Francisco, relembram-nos os votos de pobreza e caridade que orientavam esta comunidade.
O Convento de Santo António foi oferecido pela população aos frades da Regular Observância da Província Portuguesa da Piedade, cumprindo assim a promessa de edificar um convento dedicado ao santo português se este socorresse a Vila de Aveiro, livrando-a de um surto de peste. Assim, em 1524, João Nunes Cardoso, Senhor do Gafanhão, doou uma parcela de terreno, onde a população edificou o convento. A capela-mor foi construída sob o padroado de Jorge Moniz, Senhor de Angeja, e muitos outros benfeitores contribuíram com donativos para a ampliação da cerca e manutenção do templo.
Tal era a devoção e empatia da população com comunidade franciscana, que se instituiu também a Ordem Terceira de S. Francisco em Aveiro. Em 1676, esta foi autorizada a edificar um templo próprio, a Norte da Igreja de Santo António, e cinco anos mais tarde, foi construída a casa do Despacho.
A extinção das Ordens Religiosas, em 1834, provocou alterações profundas no convento. As ligações entre a Igreja de Santo António e o seu Claustro foram seladas, e estes passaram a funcionar como espaços autónomos. O Claustro albergou vários institutos públicos – foi liceu, hospital, quartel militar, e actualmente serve de instalações para a Inspecção da Polícia Judiciária de Aveiro. A Igreja, por sua vez, foi oficialmente entregue à Ordem Terceira apenas em 1877, que decidiu abrir um arco no lugar de um retábulo lateral, facilitando assim a relação e usufruto dos dois templos.
O interior destas Igrejas contrasta com a simplicidade das fachadas, possuindo obras riquíssimas: vários retábulos e outros elementos decorativos em talha e painéis de azulejo de oficina coimbrã. Podem destacar-se algumas obras setecentistas a pintura do tecto da Igreja de S. Francisco, bem como o retábulo da sua capela-mor, que enquadra um baixo-relevo figurando S. Francisco recebendo os Estigmas. De entre as várias peças de estatuária, pode destacar-se a Imagem da Nossa Senhora da Conceição em barro, no nicho da fachada de Santo António, oriunda das olarias de Aveiro. Por último uma breve referência também à “Jóia de Aveiro”: a sacristia de Santo António, mandada reconstruir após um incêndio (1712), pelo Bispo de Coimbra, D. António Vasconcelos, e restaurada recentemente. Apesar das suas pequenas dimensões tem elementos de grande valor estético, com azulejaria, talha de grande qualidade, várias telas com bustos de santos franciscanos, um arcaz e um notável lavabo.
Recentemente, este conjunto edificado foi alvo de obras de requalificação, conservação e restauro, realizadas pela Câmara Municipal de Aveiro, em parceria com a Ordem Terceira de S. Francisco, e a Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro (ADERAV), zelando assim para que esta pequena parte do património, história, memória e identidade Aveirenses não se perca.